Assista aos Documentários e faça a análise de cada um deles segundo os Tipos de Documentários
SELEÇÃO DE DOCUMENTÁRIOS
Santos - ofício alfaiate (Dannyel Leite, Brasil, 2014, 8min37seg)
O objetivo é mostrar aos alunos o quanto esse
documentário difere das reportagens televisivas na forma de dar a conhecer o
personagem. O minidocumentário se interessa pela vida particular do alfaiate e
seu ofício, ou seja, aborda profissões em vias de extinção, assim como adentra
terrenos inusitados, como a relação do personagem com a morte. Leve os alunos a
notarem que a própria forma de captação das imagens em primeiro plano
e plano detalhe (agulha, carretel de linha) traduz a delicadeza do
mundo do personagem. Tudo isso contribui para dar ao filme um tom poético, além
de participativo.
Até o céu leva mais ou menos 15 minutos (Camila Battistetti, Brasil, 2013, 13min)
Esse filme ganhou prêmios em festivais de
documentário. Retrata algo bastante comum na relação entre mães e filhos
pequenos: a paciência de que elas precisam para conviver com a variação de
humor da criança. O que se passa na tela, ao que tudo indica, apesar de poder
ter sido provocado (situação de encenação), é real.
Fraternidade (Jorge Furtado, Brasil, 2004, 3min)
Documentário de caráter reflexivo. Durante os três minutos
de duração do filme, o ator Paulo José lê, diante das câmeras, uma carta
endereçada a ele pelo cineasta gaúcho Jorge Furtado, convidando-o a participar
de um filme sobre o tema “fraternidade”. Enquanto Paulo José fala sobre isso
aparecem imagens das obras sendo construídas. O texto final da carta diz: “Num
país como o nosso, tão rico e com tanta pobreza, fraternidade é principalmente
dividir melhor a riqueza. O que tu achas? Vamos fazer?”. Um documentário de
forte carga reflexiva, pois o curta aponta o tempo inteiro para sua própria
possibilidade de realização. Um aspecto muito interessante do filme é o
contraste de temporalidades entre o texto verbal e as imagens. Enquanto o texto
joga o filme para um futuro imaginado, ainda não concretizado, as imagens
mostram, no presente da exibição fílmica, um passado que já concretizou aquilo
que havia sido imaginado como futuro. Trata-se de um material riquíssimo para
as aulas de língua portuguesa, pois abre espaço não apenas para se falar de
documentário reflexivo, mas também para abordar os jogos enunciativos com a
temporalidade.
O Sanduíche (Jorge Furtado. Brasil, 2000, 13 min)
O filme mescla as fronteiras entre o real e o
ficcional, fazendo o público duvidar do que vê. Por exemplo, destaque o modo
como a obra inicia com a simulação de ser uma narrativa ficcional. Um aspecto
importante a ser observado é a forma como as frases “Seria ótimo. Seria”,
enunciadas em forma de diálogo, aparecem em vários momentos do curta. Isso cria
um jogo muito interessante de linguagem. E é justamente esse tipo de
funcionamento que cria a dúvida no espectador, especialmente quando esse par
dialógico aparece no final do curta, durante as entrevistas com a plateia. Enfim,
o curta trabalha com várias camadas que vão sendo desveladas à medida que
mostra que aquilo que foi visto imediatamente antes era encenação.
Olhos de ressaca (Petra Costa, Brasil, 2009, 20min)
Embora o discurso verbal seja importante, são as
imagens os elementos narrativos encarregados de transmitir a beleza, a
delicadeza, a ternura do relacionamento amoroso registrado nesse filme, com narração voz em off. Há muitas
imagens desfocadas, que acentuam a plasticidade do curta. É comum as
personagens principais fazerem performance para a câmera, como nas cenas de
beijo, ou quando simulam estarem na cama, dormindo etc. O tratamento sonoro e a
trilha musical também têm papel importante na construção do tom poético do
filme. O som de ondas do mar quebrando na praia, o grasnido das gaivotas, o
piano ao fundo etc. são elementos que compõem a cena poética desse documentário
de grande sensibilidade e potência estética.
Seis e um: poesia documentada (Giovanni Rolim Antonelli, Brasil, 2017, 3min15seg)
Neste curta veem-se diversas cenas de paisagem
sequenciadas, em algumas das quais aparece o elemento humano. Paisagens e
personagens são apresentadas com o mesmo destaque. Prevalece o tratamento
poético das imagens, percebido em especial pelo cuidado com a fotografia. A
música tocada no piano é suave. No encerramento, lê-se: “Na efemeridade da
vida, o sentimento prevalece”. Traço importante do documentário poético é a
fragmentação, com o intuito de explorar associações vagas e subjetivas.
Favela da Central (Michael Miranda, Brasil, 2015, 3min28seg)
Sobre o Movimento de Defesa do Favelado (MDF), formado
por setecentas famílias que, em 2014, ocupavam um terreno particular no bairro
Vila Prudente, em São Paulo. Imagens mostram as casas e o terreno da invasão, a
mantagem intercala os depoimentos dos entrevistados sobre as dificuldades e
estratégias de ocupação do terreno. Falam da solidariedade existente na
ocupação e da militância política em favor de todos, e não apenas de si
próprios. Justificam as ocupações diante das dificuldades de se pagar aluguel e
ter uma vida digna. Mostram-se esperançosos com relação ao futuro e à
possibilidade de ganharem a posse do terreno que ocupam. Há a imagem estática
de fotografia de arquivo dos ocupantes carregando faixas onde se lê: “De teto e
de chão não se abre mão. Enquanto morar é privilégio, ocupar é direito”. Ao
final entra a trilha sonora com a música Resposta ao funk ostentação.
ANÁLISE - TIPOS DE DOCUMENTÁRIO
O documentário expositivo
O documentarista filma com
objetividade, trabalhando conteúdos educativos. Há a exposição de temas,
assuntos ou situações, apresentando situações de aprendizagem. Pode fazer uso
da “voz em off” (narrando e explicando a cena, e quem filma não aparece), uso
de letreiros que expõem o argumento defendido pelo documentário. Esses
recursos são muito utilizados em documentários de cunho científico e
didático, com função social e pedagógica.
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O documentário poético
Nos documentários poéticos as
situações aparecem de modo bem expressivo, sensível, emocional ou subjetivo,
prevalecendo a imagem e a linguagem não verbal. São documentários que buscam
enfatizar ao máximo a dimensão plástica, visual, artística de pessoas e
locais em detalhes, de maneira que as imagens consigam provocar mais
sensações, afetos e impressões do que necessariamente transmitir um argumento
ou construir uma narrativa clara sobre o mundo e a sociedade.
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O documentário reflexivo
O documentário reflexivo está mais
preocupado com o processo de expressão pessoal sobre o mundo interior e/ou
exterior. Os filmes dessa categoria mostram a reflexão da(s) pessoa(s) sobre
si mesmas e sobre o mundo, a vida, a morte etc. Assim, é comum quem filma, a
equipe de filmagem e os equipamentos aparecerem em cena, ou seja, falarem de
si mesmos, de seu processo de realização. Com esse movimento autorreflexivo,
o documentário reflete o “real” de cada um, e pode girar sobre os próprios
realizadores.
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O documentário participativo
O documentário participativo busca
mostrar a verdade através de entrevistas pessoais, é a verdade do encontro
entre quem filma e quem é filmado.
Pode-se realizar, por exemplo, uma
entrevista com algum morador do bairro onde se reside, perguntando: “Há
quanto tempo você mora aqui?”; “O que mudou no bairro durante o tempo em que
está aqui?”; “Como você avalia essas mudanças?”; “Como é viver neste lugar da
cidade?” etc.
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O documentário observacional
Os documentários observacionais
buscam dar a ideia de duração real dos acontecimentos.
O modo observacional propõe uma
série de considerações éticas sobre o ato de olhar/observar os outros e as
situações, pois deve-se considerar certos limites e o bom senso para não invadir
a privacidade ou incomodar as pessoas. É preciso se perguntar se diante da
presença da câmera as pessoas filmadas conseguem agir naturalmente ou estão
sempre simulando um comportamento. Nesse tipo de documentário quem filma não
aparece no filme, porém pode surgir alguma necessidade de intervenção se for,
por exemplo, para evitar um acidente, ao invés de filmar o acidente que pode
acontecer enquanto se filma.
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O documentário performativo
Nesses filmes, é comum o discurso
em 1ª pessoa, ou a narração em “voz off”, a utilização de performances,
ironia e humor, que podem misturar cenas da cidade, encenações das pessoas
envolvidas e trilha sonora. São documentários em que o realizador intervém em
espaços públicos e se coloca nesses ambientes de maneira performativa e
práticas ativismo político, abordagem artística e/ou pedagógica.
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