Ler é desvendar mundos

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Projeto DOCUMENTÁRIO - Olimpíadas de Língua Portuguesa

Assista aos Documentários e faça a análise de cada um deles segundo os Tipos de Documentários



SELEÇÃO DE DOCUMENTÁRIOS


Santos - ofício alfaiate (Dannyel Leite, Brasil, 2014, 8min37seg)


O objetivo é mostrar aos alunos o quanto esse documentário difere das reportagens televisivas na forma de dar a conhecer o personagem. O minidocumentário se interessa pela vida particular do alfaiate e seu ofício, ou seja, aborda profissões em vias de extinção, assim como adentra terrenos inusitados, como a relação do personagem com a morte. Leve os alunos a notarem que a própria forma de captação das imagens em primeiro plano e plano detalhe (agulha, carretel de linha) traduz a delicadeza do mundo do personagem. Tudo isso contribui para dar ao filme um tom poético, além de participativo.


Até o céu leva mais ou menos 15 minutos (Camila Battistetti, Brasil, 2013, 13min)


Esse filme ganhou prêmios em festivais de documentário. Retrata algo bastante comum na relação entre mães e filhos pequenos: a paciência de que elas precisam para conviver com a variação de humor da criança. O que se passa na tela, ao que tudo indica, apesar de poder ter sido provocado (situação de encenação), é real.


Fraternidade (Jorge Furtado, Brasil, 2004, 3min)


Documentário de caráter reflexivo. Durante os três minutos de duração do filme, o ator Paulo José lê, diante das câmeras, uma carta endereçada a ele pelo cineasta gaúcho Jorge Furtado, convidando-o a participar de um filme sobre o tema “fraternidade”. Enquanto Paulo José fala sobre isso aparecem imagens das obras sendo construídas. O texto final da carta diz: “Num país como o nosso, tão rico e com tanta pobreza, fraternidade é principalmente dividir melhor a riqueza. O que tu achas? Vamos fazer?”. Um documentário de forte carga reflexiva, pois o curta aponta o tempo inteiro para sua própria possibilidade de realização. Um aspecto muito interessante do filme é o contraste de temporalidades entre o texto verbal e as imagens. Enquanto o texto joga o filme para um futuro imaginado, ainda não concretizado, as imagens mostram, no presente da exibição fílmica, um passado que já concretizou aquilo que havia sido imaginado como futuro. Trata-se de um material riquíssimo para as aulas de língua portuguesa, pois abre espaço não apenas para se falar de documentário reflexivo, mas também para abordar os jogos enunciativos com a temporalidade.



O Sanduíche (Jorge Furtado. Brasil, 2000, 13 min)


O filme mescla as fronteiras entre o real e o ficcional, fazendo o público duvidar do que vê. Por exemplo, destaque o modo como a obra inicia com a simulação de ser uma narrativa ficcional. Um aspecto importante a ser observado é a forma como as frases “Seria ótimo. Seria”, enunciadas em forma de diálogo, aparecem em vários momentos do curta. Isso cria um jogo muito interessante de linguagem. E é justamente esse tipo de funcionamento que cria a dúvida no espectador, especialmente quando esse par dialógico aparece no final do curta, durante as entrevistas com a plateia. Enfim, o curta trabalha com várias camadas que vão sendo desveladas à medida que mostra que aquilo que foi visto imediatamente antes era encenação.


Olhos de ressaca (Petra Costa, Brasil, 2009, 20min)

Embora o discurso verbal seja importante, são as imagens os elementos narrativos encarregados de transmitir a beleza, a delicadeza, a ternura do relacionamento amoroso registrado nesse filme, com narração voz em off. Há muitas imagens desfocadas, que acentuam a plasticidade do curta. É comum as personagens principais fazerem performance para a câmera, como nas cenas de beijo, ou quando simulam estarem na cama, dormindo etc. O tratamento sonoro e a trilha musical também têm papel importante na construção do tom poético do filme. O som de ondas do mar quebrando na praia, o grasnido das gaivotas, o piano ao fundo etc. são elementos que compõem a cena poética desse documentário de grande sensibilidade e potência estética.


Seis e um: poesia documentada (Giovanni Rolim Antonelli, Brasil, 2017, 3min15seg)


Neste curta veem-se diversas cenas de paisagem sequenciadas, em algumas das quais aparece o elemento humano. Paisagens e personagens são apresentadas com o mesmo destaque. Prevalece o tratamento poético das imagens, percebido em especial pelo cuidado com a fotografia. A música tocada no piano é suave. No encerramento, lê-se: “Na efemeridade da vida, o sentimento prevalece”. Traço importante do documentário poético é a fragmentação, com o intuito de explorar associações vagas e subjetivas.




Favela da Central (Michael Miranda, Brasil, 2015, 3min28seg)

Sobre o Movimento de Defesa do Favelado (MDF), formado por setecentas famílias que, em 2014, ocupavam um terreno particular no bairro Vila Prudente, em São Paulo. Imagens mostram as casas e o terreno da invasão, a mantagem intercala os depoimentos dos entrevistados sobre as dificuldades e estratégias de ocupação do terreno. Falam da solidariedade existente na ocupação e da militância política em favor de todos, e não apenas de si próprios. Justificam as ocupações diante das dificuldades de se pagar aluguel e ter uma vida digna. Mostram-se esperançosos com relação ao futuro e à possibilidade de ganharem a posse do terreno que ocupam. Há a imagem estática de fotografia de arquivo dos ocupantes carregando faixas onde se lê: “De teto e de chão não se abre mão. Enquanto morar é privilégio, ocupar é direito”. Ao final entra a trilha sonora com a música Resposta ao funk ostentação.




ANÁLISE - TIPOS DE DOCUMENTÁRIO


O documentário expositivo

O documentarista filma com objetividade, trabalhando conteúdos educativos. Há a exposição de temas, assuntos ou situações, apresentando situações de aprendizagem. Pode fazer uso da “voz em off” (narrando e explicando a cena, e quem filma não aparece), uso de letreiros que expõem o argumento defendido pelo documentário. Esses recursos são muito utilizados em documentários de cunho científico e didático, com função social e pedagógica.

O documentário poético

Nos documentários poéticos as situações aparecem de modo bem expressivo, sensível, emocional ou subjetivo, prevalecendo a imagem e a linguagem não verbal. São documentários que buscam enfatizar ao máximo a dimensão plástica, visual, artística de pessoas e locais em detalhes, de maneira que as imagens consigam provocar mais sensações, afetos e impressões do que necessariamente transmitir um argumento ou construir uma narrativa clara sobre o mundo e a sociedade.

O documentário reflexivo

O documentário reflexivo está mais preocupado com o processo de expressão pessoal sobre o mundo interior e/ou exterior. Os filmes dessa categoria mostram a reflexão da(s) pessoa(s) sobre si mesmas e sobre o mundo, a vida, a morte etc. Assim, é comum quem filma, a equipe de filmagem e os equipamentos aparecerem em cena, ou seja, falarem de si mesmos, de seu processo de realização. Com esse movimento autorreflexivo, o documentário reflete o “real” de cada um, e pode girar sobre os próprios realizadores.

O documentário participativo

O documentário participativo busca mostrar a verdade através de entrevistas pessoais, é a verdade do encontro entre quem filma e quem é filmado.
Pode-se realizar, por exemplo, uma entrevista com algum morador do bairro onde se reside, perguntando: “Há quanto tempo você mora aqui?”; “O que mudou no bairro durante o tempo em que está aqui?”; “Como você avalia essas mudanças?”; “Como é viver neste lugar da cidade?”  etc.

O documentário observacional

Os documentários observacionais buscam dar a ideia de duração real dos acontecimentos.
O modo observacional propõe uma série de considerações éticas sobre o ato de olhar/observar os outros e as situações, pois deve-se considerar certos limites e o bom senso para não invadir a privacidade ou incomodar as pessoas. É preciso se perguntar se diante da presença da câmera as pessoas filmadas conseguem agir naturalmente ou estão sempre simulando um comportamento. Nesse tipo de documentário quem filma não aparece no filme, porém pode surgir alguma necessidade de intervenção se for, por exemplo, para evitar um acidente, ao invés de filmar o acidente que pode acontecer enquanto se filma.

O documentário performativo

Nesses filmes, é comum o discurso em 1ª pessoa, ou a narração em “voz off”, a utilização de performances, ironia e humor, que podem misturar cenas da cidade, encenações das pessoas envolvidas e trilha sonora. São documentários em que o realizador intervém em espaços públicos e se coloca nesses ambientes de maneira performativa e práticas ativismo político, abordagem artística e/ou pedagógica.


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